A falta de
vagas em unidades de terapia intensiva (UTIs) é a principal dificuldade
apontada por secretários municipais de saúde do interior de Goiás. Os
municípios alegam que a espera, muitas vezes, faz com que pacientes morram sem
a chance de tratamento em uma UTI, de modo que nem mesmo o transporte dos
moradores adoentados para cidades maiores, como Goiânia e Aparecida de Goiânia,
resolve o problema.
Até o final
deste ano, o governo estadual, por meio de emendas impositivas dos deputados,
deve mandar aos municípios R$ 8,9 milhões para a aquisição de ambulâncias,
usadas especialmente para o transporte de pacientes do interior para o
tratamento emergencial na capital.
A Central de
Regulação de Goiânia informa que metade dos seus 424 leitos são ocupados por
pessoas do interior. Em Aparecida de Goiânia a situação é parecida: 40% das
vagas estão com pacientes de outras cidades. A secretária de Saúde de Mundo
Novo, na Região Norte, Maria Madalena de Paula, relata as consequências
dramáticas dessa situação. No sábado (7), a comunidade perdeu um morador de 71
anos, que sofreu Acidente Vascular Cerebral (AVC) e aguardava por um leito de
UTI, mas morreu ao esperar por seis dias. “No interior nos conhecemos, somos
todos uma grande família. Eu estou arrasada, a família está sofrendo muito.
Nosso hospital fez tudo que podia e acredito que se tivesse em uma UTI poderia
ter sobrevivido. E mesmo que não tivesse, teríamos a sensação de dever
cumprido”, completa.
Maria
Madalena conta que a mobilização chegou a passar pelo prefeito e por
vereadores, mas o atendimento não aconteceu. “A região toda enfrenta isso. Se
for fratura exposta é mais fácil, mas em casos de fraturas fechadas já esperamos
12 dias por um leito”, finaliza.
Em Novo
Gama, no Entorno do Distrito Federal, a secretária de Saúde, Wisliane
Nascimento, diz que, apesar de estar a 10 minutos de Brasília, precisa trazer
pacientes a Goiânia. “Passamos por muitas humilhações na porta dos hospitais de
Brasília, mas às vezes nos submetemos porque nossos pacientes não conseguiriam
chegar em Goiânia. Na capital só se passar pela regulação, mas aí eu não teria
chance”, afirma.
Wisliane diz
que em casos de vítimas de traumas, que precisam de tomografias, a situação se
repete e os “favores” são novamente solicitados. “É muito longe ir pra Goiânia,
vivemos uma situação complexa”, finaliza.
Em
Morrinhos, na Região Sul do Estado, pelo menos três pacientes da rede pública
morreram em 2019 por falta de vagas em UTI, segundo a Secretaria Municipal de
Saúde da cidade.
Superintendente
de Regulação e Políticas Públicas da SMS de Goiânia, Andréia Alcântara, afirma
que não existe a negação de vagas de urgência e emergência para nenhuma cidade.
“No caso da regulação dos leitos hospitalares não tem a pactuação, os outros
municípios pedem e nós a procuramos.”
Andréia
explica que a ocupação da vaga independe da localidade do paciente, sendo
utilizado apenas o critério clínico e o perfil dos leitos. “Metade das vagas
são ocupadas por pacientes do interior. O questionamento dos gestores se dá
porque cada um só conhece a sua realidade, nós que conhecemos a situação global
sabemos que não existe isso de negar uma vaga. Não parte da premissa da
localidade.”
Em Aparecida
de Goiânia, o diretor de Avaliação e Controle da SMS, Luciano de Moura, reforça
que 40% dos 53 leitos locais são ocupados por pacientes de outras cidades. “De
forma alguma há o privilégio para quem é da cidade, é só pelo estado clínico,
pela gravidade do caso.”
Moura
garante que o problema em relação a falta de vagas de UTIs reclamado pelos
gestores municipais do interior ocorre em razão da quantidade e do perfil dos
pacientes. “Em Aparecida, por exemplo, temos serviços especializados em neurologia,
existe então uma facilidade maior em ter vagas nesta especialidade, mas já há
grande dificuldade em leito oncológico.”
Fonte: O Popular