O Estado de
Goiás já tem, pelo menos, 286 pessoas recuperadas do novo coronavírus
(Sars-Cov-2). A reportagem entrou em contato com as prefeituras e secretarias
de Saúde dos 58 municípios goianos com casos confirmados da doença pela
Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO) até o dia 30 de abril. Não
obteve contato apenas com a gestão de Guapó, que conta com um caso confirmado
da Covid-19.
O número de
pessoas recuperadas, entre elas casos leves e graves, representa 36,7% do total
de 781 casos confirmados registrados pela SES-GO no dia 30 do último mês. O
número está abaixo da média nacional que, neste mesmo dia, estava em 42%.
Porém, a superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim,
acredita que a quantidade de pessoas curadas em Goiás é maior. “Temos que levar
em conta que os casos que não viram óbitos, automaticamente viram curas”,
esclarece.
Um exemplo
de que o número de pessoas recuperadas no Estado é maior é o caso de Goiânia.
Na capital do Estado a divulgação do número de pacientes curados ocorre baseada
nos casos com investigação completa, ou seja, casos em que se tem todo o
histórico e informações do paciente. Porém, no dia 30 de abril a capital, que
contava com 448 casos confirmados, representando mais da metade das pessoas
doentes do Estado, tinha 197 casos ainda sob investigação. Sendo assim, ainda
não é possível confirmar precisamente se 44% dos casos confirmados de Goiânia
foram curados ou não.
A
superintendente explica que a SES-GO ainda não divulga no boletim
epidemiológico diária da pasta o número de pessoas que foram curadas no Estado
por conta da quantidade de dados que as equipes da secretaria tem de lidar
diariamente. “Temos que ‘limpar’ muitas inconsistências. Além disso, os
municípios não estão alimentando o sistema adequadamente. Caso isso acontecesse
teríamos esse dado de forma automática pois no formulário que eles nos enviam
tem um espaço onde se preenche se o caso evoluiu para cura ou óbito”, afirma.
Segundo ela,
o problema foi discutido na reunião do Centro de Operações de Emergências em
Saúde Pública para o Novo Coronavírus (COE), que ocorreu nesta quarta-feira
(29), onde ficou decidido com o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do
Estado de Goiás (Cosems-GO) que as secretarias municipais terão mais atenção
com a questão. Segundo ela, a definição adotada pela SES para considerar uma
pessoa que se infectou com o novo coronavírus como curada é a avaliação
clínica. “Em momentos como esse, a clínica é soberana”, enfatiza.
Flúvia diz
que mesmo com o número crescente de pessoas curadas, é preciso que a população
mantenha, se possível, o isolamento social, use máscaras, o álcool 70% e lave
bem as mãos. “Esse número pode mudar a qualquer momento. Se as pessoas
descuidarem os casos vão aumentar de uma vez e teremos mais casos graves e
mortes. É preciso continuar seguindo as recomendações dos órgãos de saúde”,
esclarece.
Imunidade
Flúvia
explica que em meia à discussão internacional se as pessoas que foram
infectadas uma vez pelo novo coronavírus, podem ficar doentes novamente, a
recomendação da superintendência é que as pessoas curadas sigam usando máscaras
e tendo cuidados redobrados com a higiene. “A orientação é que todo mundo
continue se prevenindo”, pontua.
Até mesmo a
utilização do termo “curado” é motivo de questionamento. O médico Boaventura
Braz, infectologista do Hospital de Doenças Tropicais (HDT), diz que ainda não
é possível afirmar que as pessoas que se contaminaram com o novo coronavírus
uma vez estão imunes à doença.
“Não pode se
dizer isso precisamente. Tem uma grande discussão no âmbito internacional sobre
o assunto. Se nos basearmos, por exemplo, no surto de Sars-Cov em 2002 veremos
que a imunidade de quem se infecta durou só três anos”, explica.
Braz conta
que por ser uma doença muito nova, a Covid-19 ainda é cercada de dúvidas e, por
isso, é necessário ter cautela. “Temos casos de pessoas que testaram positivo
novamente. Porém, não podemos trabalhar em cima de um percentual mínimo. Pode
ser que essas pessoas que pegam da doença mais de uma vez a doença sejam
exceções”, aponta.
A médica
infectologista Christiane Kobal também diz que ainda é muito cedo para dizer se
as pessoas que já foram infectadas pelo novo coronavírus podem se infectar de
novo ou não. “Podemos falar que elas estão curadas e que a curto prazo é muito
improvável pegarem de novo. Porém, a médio e longo prazo ainda não podemos
afirmar nada precisamente”, enfatiza.
Kobal diz
ainda que, mesmo que o percentual de cura da doença seja alto e a maioria das
pessoas desenvolvam apenas sintomas leves, a Covid-19 é uma doença imprevisível
e por isso é preciso que as pessoas se resguardem. “Ainda não conhecemos bem a
doença. Por isso, não dá para saber se quando a pessoa pegar ela vai morrer ou
não. A doença também tem se desenvolvido de forma grave em pacientes jovens e
sem comorbidades”, afirma.
Segundo ela,
cientificamente, o ideal é que as pessoas não pegassem a doença agora. “Quando
mais as pessoas puderem adiar é melhor porque hoje não temos cura e tratamento
eficaz, mas é possível que daqui a algum tempo tenhamos”, esclarece. Ela conta
que também é preciso ressaltar que apesar de poucos, os casos graves da doença
ficam muito debilitados. “Estou dentro de hospitais todos os dias e vejo a
realidade da doença. É preciso que sigamos tomando cuidado porque a morte de
uma pessoa já é uma tragédia e não sabemos como o nosso corpo vai reagir à
doença”, pontua.
“Em fase
ativa, doença mostra a potência que tem”
Uma das
pessoas de Goiás que ficou em estado grave por conta da Covid-19, mas se
recuperou foi o médico cirurgião e professor de cirurgia, Edson Tadeu de
Mendonça, de 61 anos. Ele foi internado no dia 21 de abril no Hospital do
Coração Anis Rassi, em Goiânia, onde chegou a ficar em uma Unidade de Terapia
Intensiva (UTI). Ele foi para casa nesta terça-feira (28).
Segundo ele,
o período em que ficou doente foi muito difícil. “Durante sua fase ativa a
doença mostra a potência que tem. Para mim foi um período terrível. No meu caso
e outros vários casos graves ela tem uma potência e virulência extraordinária.
O que me preocupa muito como médico é a forma que ele muda de um organismo para
o outro”, afirma o médico.
No início,
Edson foi diagnosticado com dengue grave, mas após 8 dias começou a ter febre e
dores musculares. Uma tomografia mostrou que os pulmões estavam bem afetados.
No hospital, ele e sua mulher realizaram novos exames e os resultados até então
negativos foram positivos. Em seguida, o médico precisou passar por uma
cirurgia e com isso acabou sendo transferido para a UTI.
O
profissional suspeita que se contaminou enquanto operava e realizava visitas no
Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), onde trabalha. Ele explica ainda que
ao concluir suas atividades na unidade seguia para casa, onde ficava
completamente isolado junto com sua mulher, que também é médica, Maria Edna
Pereira Quaresma, de 60 anos, que foi internada no Hospital do Coração Anis
Rassi um dia depois dele e também foi para a UTI. “Graças a Deus ela está
melhor e saiu da UTI nesta quinta-feira (29)”, pontua.
Segundo ele,
desde que se curou e está em casa tudo tem sido mais fácil. “As forças vão
voltando e tudo volta ao normal. Devo meu bem estar à ciência logofísica, uma
ciência humanística, que fortaleceu minha mente e permitiu que meu ânimo não
fosse afetado mesmo com condições físicas abatidas”, conta.
Edson
ressalta que depois de se recuperar não pensou em abandonar a profissão. “Eu tenho
uma missão como médico e ser humano e penso que daqui uma semana ou no máximo
daqui 10 dias quero estar trabalhando e operando novamente. É algo intrínseco
em minha vida e enquanto tiver forças vou continuar fazendo”, finaliza o
médico.
Desenvolvimento
de vacina é esperança contra a doença
A vacinação
ainda é a maior esperança na luta contra o novo coronavírus (Sars-Cov-2). De
acordo com a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Mayra
Moura, a vacinação é a ação mais estratégica na hora de prevenir a doença.
“Justamente pelo fato de ainda não sabermos se as pessoas que pegaram a doença
estão imunes permanentemente é preciso de uma vacina que garanta isso”,
explica.
Segundo ela,
um grande número de pessoas vacinadas é a melhor forma de assegurar que a
doença não vai se espalhar e também é uma de forma de proteger quem não estiver
vacinado. “É o que chamamos de imunidade de rebanho. Digamos que temos 100
pessoas doentes. Se 90 delas se vacinarem, as outras 10 automaticamente vão
estar muito protegidas porque as pessoas vacinadas vão diminuir a capacidade de
circulação do vírus”, afirma Moura.
A diretora
conta que no mundo já existem cinco vacinas em desenvolvimento na etapa mais
avançada de testes. “São três etapas: a laboratorial, a pré-clínica onde é
feita a análise em animais e a etapa do estudo ou ensaio clínico, que se divide
em três fases. Temos laboratórios nos Estados Unidos, China e Inglaterra que já
estão trabalhando na primeira fase do estudo clínico”, esclarece.
Moura diz que
a rapidez no desenvolvimento da vacina tem sido resultado de um esforço mundial
e estratégia diferenciada. “Normalmente levamos anos para fazer uma vacina. Os
recursos são muito caros e o costume é iniciar uma etapa apenas quando a
anterior é concluída. No caso do novo coronavírus, as etapas estão sendo
desenvolvidas em paralelo para perder a menor quantidade de tempo possível”,
conta.
A diretora
da SBIm afirma que existe uma promessa de que a vacina contra a Covid-19 fique
pronta ainda em setembro deste ano. “Não estou envolvida diretamente em nenhum
estudo para poder refutar essa data. Porém, posso afirmar que caso eles
consigam desenvolver a vacina em menos de um ano vai ser um marco histórico”,
finaliza Mayra.
Fonte: O Popular