Às vésperas
do Dia Mundial do Meio Ambiente, um dos paraísos naturais do Brasil vive mais
uma ameaça. Em dois meses, uma área de cerrado equivalente a mil campos de
futebol oficial foi devastada na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. E as máquinas
não param.
O
desmatamento ocorre no município de Cavalcante, dentro do território dos
kalungas, formado por remanescente de escravos, certificado pela Fundação
Cultural Palmares e delimitado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra) em 2009. O crime ambiental pode ser agravado porque o mesmo
território é considerado Sítio Histórico e Patrimônio Cultural de Goiás pela
lei estadual de número 11.409, de 1991.
A denúncia
foi feita pela Associação Quilombo Kalunga (AQK) e por representantes da
sociedade civil de Cavalcante, mas já se tornou internacional, através das
redes sociais. Uma ação civil pública está sendo preparada para que a Justiça
seja provocada a se manifestar.
A secretária
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do governo de Goiás, Andréa
Vulcanis, pegou um avião e embarcou de Goiânia, no início da tarde de hoje, com
destino a Cavalcante, para sobrevoar, ao lado de uma equipe de fiscalização, o
que se configura como crime ambiental.
“Recebemos a
denúncia de um grande desmatamento no território kalunga na terça-feira
passada. Não vamos permitir, e vamos conter, qualquer tipo de atividade ilegal
na área ambiental de Goiás. Goiás não admite intervenções ambientais que não
sejam feitas de forma adequada e autorizada. O território kalunga está sob
gestão do governo federal, porém toda parte de supressão de vegetação e
autorização é da secretaria estadual. Faremos nosso papel atuando de forma
efetiva”, disse a secretária, que prometeu autuação.
Berço das
águas
Segundo a
denúncia da AQK e de outros setores da sociedade civil de Cavalcante, incluindo
guias de turismo, donos de pousadas e restaurantes, comerciantes, professores,
empresários e trabalhadores em geral da cidade e da zona rural, as terras
desmatadas estão na cabeceira do Rio Prata e na nascente de outros afluentes.
Trata-se de uma região considerada berço das águas, onde estão algumas das mais
belas cachoeiras da Chapada dos Veadeiros, a exemplo do Rei do Prata.
O
desmatamento, de acordo com essas entidades, é praticado pela Agropecuária Rei
do Prata Ltda., proprietária da Fazenda Pequi. A área desmatada se localiza
entre essa propriedade e a Fazenda Alagoas. “Um crime ambiental feito pela ganância
do agronegócio que põem em risco a saúde de todos que estão abaixo de suas
cabeceiras e principalmente da comunidade kalunga”, disse a AQK, em texto
postado nas redes sociais e enviado pelo WhatsApp para várias pessoas,
inclusive formadores de opinião.
“Algo sem
precedentes para a conservação do bioma cerrado. Infelizmente, tudo sendo feito
na calada da noite e destruindo os últimos Campos de Cerrado, Cerrado Stricto
Senso, veredas, Campos Úmidos e a vida silvestre. As autoridades precisão se
posicionar e dar transparência para a comunidade de Cavalcante, da Chapada dos
Veadeiros e principalmente para os kalungas, pois essas áreas estão em seu
território”, acrescentou.
Dependência
do turismo
Cavalcante,
assim como as cidades que integram a Chapada dos Veadeiros, depende do turismo
como atividade econômica. Nesses tempos de pandemia, com os atrativos fechados
e sem previsão de reabertura, praticamente toda a população sofre com a perda
de renda, principalmente os kalungas, que exploram, em seu território,
cachoeiras como a famosa Santa Bárbara, a Candaru e o próprio Rei do Prata. Com
o desmatamento, o problema só tende a aumentar.
Fonte:
Correio 24h