Quatros
pessoas da mesma família morreram no intervalo de 13 dias por conta do novo
coronavírus (Sars-Cov-2), em Planaltina de Goiás. As vítimas são o pai, mãe,
irmã e avô do servidor público Natanailton Xavier, de 44 anos. Todos tinham
comorbidades.
A primeira
morte foi a de irmã de Natanailton, a auxiliar de cozinha Selma Lourenço de
Brito, de 43 anos. Segundo o servidor público, a irmã tinha doença de chagas,
insuficiência respiratória e obesidade. “Ela já não trabalhava há dois anos por
causa da condição dela. Tinha a saúde muito frágil”, explica. Selma foi
internada no Hospital Municipal Materno Infantil Santa Rita de Cássia, em
Planaltina, no dia 16 de maio. Ela faleceu dia 18.
Logo após a
irmã ficar doente e morrer, Natanailton conta que o avô, Vitor Ferreira de
Brito, de 98 anos, o pai Sidinei Lourenço Xavier, de 68 anos e a mãe Olga
Ferreira Xavier, de 69 anos, também ficaram doentes e foram internados.
A segunda
vítima da doença na família foi Vitor. Ele era o pai de Olga. O idoso morreu no
dia 26 de maio. “Meu avô tinha problemas renais, estava tratando uma pneumonia
há dois meses e já não saia de casa. Porém, era um homem muito ativo e lúcido”,
comenta Natanailton. Vitor foi internado no dia 23 de maio no Hospital
Municipal.
A terceira
pessoa da família a morrer foi o pai de Natailton. Ele faleceu na última
quinta-feira (28). Três dias depois, neste domingo (31), a mãe do servidor
público também morreu devido à Covid-19.
Tanto ele,
quanto a mãe de Natanailton, quando começaram a passar mal foram levados para o
Hospital São Camilo, em Formosa, e depois transferidos para o Hospital
Garavelo, em Goiânia. Sidinei e Olga foram hospitalizados no dia 25. “Meu pai
tinha problemas cardíacos e era diabético. Minha mãe era hipertensa.
Entretanto, todos os dois eram muito fortes”, relata o servidor público.
Preconceito
Natanailton
diz que desde que os familiares morreram uma parte da população da cidade tem
sido preconceituosa com a família. “As pessoas estão falando que nós estamos
trazendo a doença para Planaltina. Isso não é verdade. Não desejamos que
ninguém fique doente e que nada do que aconteceu conosco aconteça com outras
famílias”, esclarece.
Ele afirma
que não sabe como os pais e o avô se
infectaram. “Dizem por aí que eles (pais e avô) estavam saindo pela cidade.
Isso não é verdade. Eles não saiam de casa. Porém, antes de ficarem doentes
meus pais pegaram dengue. Por isso, os levei a um hospital. Não sei se eles
pegaram em casa ou nessa ida ao hospital”, explica. Os três idosos moravam na
mesma casa junto com um sobrinho e recebiam a visita dos filhos.
Além do pai,
da mãe, do avô e da irmã, Natailton, que tem mais cinco irmãos, conta que
outras pessoas da família também se infectaram com a Covid-19. “Eu, minha
esposa e um dos filhos da Selma adoecemos”, diz.
Porém, de
acordo com ele, todos os protocolos que os órgãos de saúde passaram foram
seguidos à risca. “Desde que meus pais e meu avô foram internados, todas as
pessoas da minha família que testaram positivo para a doença ou tiveram contato
com eles começaram a cumprir o isolamento”, explica.
Natailton
conta que todos os quatro sepultamentos foram feitos seguindo todas as normas.
“Nenhum caixão foi a aberto. A partir do momento que fui diagnosticado com a
Covid-19 não pude ter mais contato com ninguém. Então, acompanhei o enterro da
minha mãe, por exemplo, de dentro do meu carro, na porta do cemitério”,
esclarece.
Saudade
Natanailton
diz que toda a família é evangélica e que, por isso, estão conseguindo lidar
com mais serenidade com as mortes. “Meu pai era pastor e minha mãe era
missionária. Meu avô conhecia a bíblia inteira. Nós conhecemos a Deus e temos
confiança nele. A nossa fé é o que nos fortalece. Porém, é claro que estamos
muito triste e tentando juntar os casos nesse momento de dor”, enfatiza.
O servidor
público também faz um alerta sobre a Covid-19. “O vírus é verdadeiro. Por isso,
as pessoas precisam se conscientizar mais e tomar cuidado quando forem sair de
casa. É preciso usar máscara, álcool em gel e tomar todas as precauções”,
afirma.
Natailton
explica que não sabe como serão os próximos dias. “Eu não consigo pensar o que
será daqui para frente. Meus pais moravam em frente à minha casa. Fazia tudo
por eles. Eles eram tudo para mim. Vamos ter que reaprender a viver”, relata.
Assistência
O servidor
público ressalta ainda que a prefeitura de Planaltina não deu a assistência
necessária à família. “Depois que meu pai foi internado eu comecei a passar mal.
Tive febre alta e dor de cabeça. Porém, a única coisa que fizeram foi pedir
para que eu ficasse em casa. Não fizeram o teste para a Covid-19”, afirma.
O servidor
público fala que só recebeu atendimento depois que procurou um hospital no
Distrito Federal. “Fiz o teste, me passaram remédios e me mandaram para casa.
Só depois disso foi que eu melhorei”, relata.
Segundo
Natailton, nenhum dos exames para o diagnóstico da doença nos membros da
família foram feitos através da prefeitura. “Todo mundo que fez teve que pagar
para fazer em Brasília”, conta.
O secretário
municipal de Comunicação de Planaltina, Lázaro Reis, informou que o teste da
Covid-19 foi oferecido à Natanailton. “Acontece que os testes vem da Secretaria
de Estado de Saúde (SES-GO) e a prioridade é para os casos graves. Assim que
chegaram mais testes, oferecemos para ele. Porém, ele nos informou que já havia
procurado outra unidade de saúde para fazer a testagem”, explica.
Em relações
às condições do Hospital Municipal, Reis esclareceu que a nova administração
municipal assumiu o comando há cerca de 60 dias e desde então, tem voltado
todos os esforços para deixar o hospital nas melhores condições possíveis para
receber e tratar pacientes.
Primeiro
caso
A prefeitura
de Planaltina informou ainda que acredita que o primeiro caso da doença na
família pode ter sido de uma tia de Natailton. Edna Lourenço Xavier de
Vasconcelos, de 61 anos, morreu no dia 13 de maio por pneumonia aguda.
O secretário
de Comunicação da prefeitura de Planaltina informou que depois das mortes da
irmão, do pai, da mãe e do avô de Natanailton, a Secretaria Municipal de Saúde
(SMS) da cidade começou a suspeitar que a idosa, que foi internada no dia 10 de
maio, no Hospital Municipal da cidade, estava com a Covid-19.
Segundo ele,
ela não foi testada porque durante o protocolo de atendimento, os médicos
avaliaram que não havia necessidade. “Os médicos chegaram à conclusão de que
ela não tinha um histórico que indicava a possibilidade de ser Covid-19 porque
ela não passou por locais com grande circulação da doença, nem teve contato com
ninguém doente”, esclarece.
Fonte: O
Popular