Polêmica à
vista para definir quem é o verdadeiro “dono” do pequi. Um projeto de lei
proposto pelo deputado federal Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG) pretende dar
ao município de Montes Claros (MG) o título de “capital nacional do pequi”.
A proposta
foi apresentada na quinta-feira (4/2) à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados,
em Brasília.
Os goianos,
muitos inclusive que se autodenominam como “roedores de pequi”, foram às redes
para reclamar. O próprio governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), em tom
bem-humorado, foi ao Twitter e comentou a proposta do deputado mineiro: “Não
tem base essa história de um deputado mineiro querer transformar Montes Claros
(MG) na capital do pequi. Pequi está no DNA goiano. Muito mais que símbolo de
nossa culinária, faz parte de nossa cultura. Acionei o deputado José Nelto para
mobilizar nossa bancada”.
O deputado
federal José Nelto é conhecido por não fugir de polêmica. No entanto, mesmo
radicado em Goiás há vários anos, não se sabe qual time o parlamentar irá
defender, pois ele é natural de Tiros (MG).
O governador
goiano ainda completou: “Já vamos fazer um acordo aqui: a gente deixa o ‘trem’
e o pão de queijo para vocês mineiros, e em troca ninguém mexe no nosso pequi.
Combinado?”
O perfil de
Instagram Enquanto Isso em Goiás, conhecido por fazer memes goianos e que tem o
pequi na imagem de divulgação, foi um dos que capitanearam a “revolta”. “Tem
gente que brinca com minha paciência”, postou o administrador do perfil, apresentando
uma cópia do PL do deputado. Bastou isso para que os seguidores se
manifestassem, a maioria reclamando para Goiás a “paternidade” do pequi.
O perfil
@fernandarodriguess__ disse o seguinte: “Como assim? Sou mineira e nunca tinha
comido pequi na vida, fui apresentada pelo povo de Goiânia. Sendo mineira, saio
na defesa do Goiás”. Já o perfil @gus_loren dá uma alfinetada: “Come ‘piqui’
com faca ainda quer ser capital do pequi??? Sai fora”. Outro perfil,
@carladaniela975, se diz tocantinense, mas faz a defesa dos goianos: “Oxe nem
eu, que sou do Tocantins, aceito que o pequi é de Minas, tá doidão… O pequi é
do Goiás, mais óia!!!”.
O fruto,
típico de Cerrado, é muito relacionado à culinária de Goiás. Galinhada com
pequi, arroz com pequi, frango com pequi, empadão com pequi ou simplesmente o
pequi refogado estão entre os pratos goianos mais típicos. O fruto desperta
paixão, seja pelo sabor e cheiro característicos ou pelo fato de que o caroço
precisa ser apenas roído (sob risco de roer demais e revelar os afiados
espinhos internos).
Não há meio
termo para o pequi na culinária: ou a pessoa gosta ou odeia. Até mesmo entre os
goianos ele não é unanimidade. Há aqueles que defendem, inclusive, que a
pamonha (feita com milho e que pode ser salgada ou doce) seria muito mais amada
do que o pequi. Mas essa é uma outra discussão
Na
justificativa do projeto, o deputado mineiro alega que Montes Claros,
localizada no norte de Minas Gerais, promove todos os anos a Festa Nacional do
Pequi, que já está indo para a 30ª edição em 2021. “Além da culinária, o evento
serve para divulgar e valorizar a cultura e a arte regionais, merecendo um
maior espaço no que se refere ao reconhecimento nacional”, argumenta o deputado
no texto do projeto. Ele expõe, ainda, que bares e restaurantes da cidade
elaboram pratos, cujo principal ingrediente é o pequi.
O deputado
associa a melhoria das condições de vida, geração de empregos, renda e
investimentos na cidade aos pequizeiros da região. Segundo ele, é o pequi que
impulsiona a realidade em um local marcado “pela seca, pela péssima
distribuição de renda, pelas décadas de falta de investimento”.
É importante
registrar que, além de o fruto estar intimamente ligado à cultura e à culinária
do estado, vários municípios goianos também realizam festas tradicionais. Um
dos exemplos é Crixás, no norte do estado, que realiza o Festival Cultural do
Pequi oficialmente desde 2005. Cidades goianas, como Mambaí, Iporá e Ivolândia,
entre outras, também realizam festividades tradicionais voltadas para o fruto.
O pequi
Na
justificativa do projeto, o delegado Marcelo Freitas começa dizendo que o pequi
é conhecido como o “Ouro do Cerrado”. O nome tem origem indígena e significa
“casca espinhosa”, referindo-se ao fato de que o interior do caroço é
preenchido por pequenos espinhos.
Para
comê-lo, é preciso cuidado. O certo é roer a polpa que reveste o caroço, sem
morder para evitar qualquer contato com os espinhos. Dele, é extraído, ainda,
um óleo com propriedades medicinais e a polpa dá origem a uma série de produtos
diferentes, de licores a conservas.
O pequizeiro
é uma árvore, nitidamente, com as características do cerrado. Com os troncos
retorcidos e resistente ao clima seco e quente, a árvore pode atingir de 15 a
20 metros de altura, com troncos de dois a cinco metros de circunferência.
Fonte e
texto: Metrópoles